
15 de outubro de 2018
A inclusão social dentro da empresa
A InBetta, um grupo gaúcho que produz material de limpeza e utilidades domésticas, acredita na antiga máxima chinesa de que melhor do que dar o peixe é ensinar a pescar. Por isso, em 2015, aderiu ao Projeto Pescar, um programa socioprofissionalizante desenvolvido pela Fundação Projeto Pescar, em parceria com a sua rede de apoiadores, para o acesso ao mercado de trabalho de jovens em situação de vulnerabilidade social. Com duas turmas em sala de aula, a InBetta é uma das 143 empresas com unidades do Pescar funcionando em suas próprias instalações.
O diferencial em relação a outros programas de formação profissional é que, no Pescar, os alunos entre 15 e 19 anos são resgatados da situação de vulnerabilidade para trabalhar nas próprias empresas apoiadoras. Entenda-se por vulnerabilidade não apenas a de natureza social. O Pescar tem portas abertas também para os jovens, mesmo de classes mais favorecidas socialmente, que, por desvios de conduta, como ex-drogados, são muitas vezes rejeitados até pela família e não conseguem se habilitar para o trabalho. De 1976, quando foi criado, até hoje, o Pescar já formou quase 31 mil jovens.
Desde que aderiu ao programa, há três anos, a InBetta já recrutou 15 jovens do Pescar para trabalhar em suas fábricas. Todos eles foram selecionados após concluírem o curso profissionalizante, ministrado dentro da empresa, com um ano de duração. Até 2017 a empresa tinha apenas uma turma de 15 alunos, que estudava no turno da manhã. A partir deste ano a InBetta dobrou a aposta social e tem uma segunda turma com o mesmo número de alunos no turno da tarde.
Os cursos de formação profissional, que têm a duração de um ano, habilitam os jovens em Gestão em Negócios, Produção e Processos, Informação e Comunicação, Manutenção, Ambiente e Saúde e Petróleo e Gás. Nos primeiros seis meses, as aulas são todos os dias da semana, em grupo, com ênfase no desenvolvimento pessoal e ministradas por funcionários das empresas. São ao todo 32 disciplinas que vão desde noções sobre o ambiente de trabalho, saúde, dependência química, lazer e os modelos técnicos como soldagem, eletricidade e manutenção, entre outras.
No sétimo mês, a formação dos alunos é completada com a prática profissional. “É o momento que eles mais esperam, pois vão colocar a mão na massa”, explica a educadora Ana Guedes. Nessa fase, os alunos frequentam as salas de aula apenas duas vezes por semana e aprendem o ofício em outros dois dias dentro das empresas, de forma individual. Os alunos, contratados como menores aprendizes para trabalhar na área de produção, recebem uma bolsa-auxílio de um salário mínimo.
Os jovens “nem-nem”
O jovem brasileiro é o que mais sofre com a falta de emprego. De acordo com o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, no segundo trimestre de 2018, a taxa de desemprego entre a faixa etária de 18 a 24 anos é de 26,6%, mais que o dobro da taxa da população em geral, que ficou em 12,4%. Os jovens brasileiros com idade entre 18 e 39 anos representam 67% dos desempregados, ou seja, cerca de 8,5 milhões de trabalhadores. A pesquisa também revelou que a maior taxa de desemprego é entre os 14 e 17 anos de idade: 42,7% não trabalham.
Outro índice que cresce é o dos “nem-nem”, jovens que nem trabalham e nem estudam, que já representam 23% da população entre 15 e 29 anos de idade. São mais de 11 milhões de brasileiros, segundo o IBGE.
Gaúchos da limpeza
O grupo gaúcho InBetta, fundado em 1947, é integrado pelas empresas Bettanin, San Remo, Ordene, Atlas e Primafer, conhecidas no mercado de utilidades domésticas e de limpeza. Com faturamento da ordem de R$ 1,2 bilhão, as marcas produzem mais de 50 milhões de unidades por mês, num mix de 4.500 produtos exportados para 50 países.
A InBetta tem 2.600 funcionários e sede na cidade de Esteio, próximo a Porto Alegre. Recentemente a empresa inaugurou um complexo industrial em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, em Pernambuco. Além do Pescar, a empresa apoia outros três projetos: o Aldeias Infantis SOS Brasil, o Baile do Menino Deus e a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Um dos requisitos para a participação no programa Pescar é estar cursando ou frequentando no mínimo o 7o ano do Ensino Fundamental, ou com o Ensino Médio concluído. Essa exigência contribui para uma formação em turno integral, pois o adolescente participa do Projeto Pescar no contraturno da escola.
Ao manter o jovem ocupado, o programa auxilia na proteção do trabalho do adolescente, na continuidade dos estudos, na redução do índice de violência e na diminuição dos riscos de exposição às drogas.