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19 de fevereiro de 2025

Ansiedade climática e uso de IA impactarão saúde mental nas empresas em 2025

Os dois temas estão entre os sete fatores que mais exercerão influência no estado emocional dos trabalhadores, de acordo com relatório de tendências, desafios e oportunidades produzido pelo Instituto Philos em parceria com o Integridade ESG

O tema da saúde mental deve ser encarado de forma contínua e perene pelas empresas, no âmbito de uma agenda estratégica organizacional. Para acompanhar as mudanças e tendências da sociedade e no mercado de trabalho, o Instituto Philos Org, em parceria com o Integridade ESG, acaba de lançar o relatório Saúde Mental nas Empresas 2025 – Desafios e Oportunidades.

O documento traz um Radar da Saúde Mental com as grandes tendências para este ano, além de registrar os riscos e as oportunidades mais relevantes que podem impactar a saúde mental do trabalhador, funcionando com um iluminador do que está por vir para as lideranças empresariais, que podem planejar ações proativas das organizações.

“Observamos de um local privilegiado o tema, de forma contínua, acompanhando as próprias mudanças e tendências da sociedade e do mercado de trabalho, que seguem em rápidas e constantes transformações”, afirma o CEO do Philos Org, psicólogo clínico e administrador Carlos Assis.

De acordo com o relatório, os sete temas que terão maior impacto na saúde mental do trabalhador são: os riscos da inteligência artificial no cuidado da saúde mental; o contexto político global e a agenda ESG; desafios da saúde mental das mulheres no ambiente de trabalho; o impacto da ecoansiedade; o novo papel do diretor de felicidade; a campanha do setembro amarelo na prevenção ao suicídio e políticas públicas.

Ansiedade climática afetará funcionários

As mudanças climáticas vão exercer uma influência crescente no estado mental e emocional dos trabalhadores, aponta o relatório, informando que a palavra ecoansiedade, conhecida também como ansiedade climática, foi recentemente incorporada ao dicionário de Oxford e definido pela Associação Americana de Psicologia como o “medo crônico da catástrofe ambiental”. A melhor forma de evitar que esse “novo normal” afete negativamente os resultados das companhias é que a própria empresa se envolva na agenda ESG de maneira robusta.

“A primeira coisa que a empresa pode fazer é ela própria estar envolvida na agenda ESG na totalidade na adoção de seus processos e na sua cultura. Uma vez mais, temos uma questão maior, que transcende a capacidade operacional da empresa. Em eventos extremos, como enchentes e queimadas, as empresas podem atuar nas comunidades, em campanhas de conscientização e prevenção. Enfim, é importante contar com coerência ética de uma empresa responsável e comprometida com a agenda ESG como um todo”, avalia o especialista em saúde mental Carlos Assis.

Terapia com IA

No item sobre inteligência artificial, o documento enfatiza os risos gerados pelo seu uso nos cuidados com a saúde mental:

“A grande questão é como vamos usar a IA. Se você entrar agora no Google e buscar aplicativos ou plataformas de IA para terapias surgirão várias opções, afirmando que o algoritmo vai entender o estado de espírito e direcionar você para terapias. E isso é assustador, pois os processos terapêuticos possuem um grau de subjetividade inerente à condição humana. O não quer dizer que não podemos utilizar as ferramentas de IA de forma adequada e ética para tantas aplicações favoráveis. Mas é preocupante seu uso como ferramenta terapêutica”, avalia Carlos Assis, do Philos Org,

Contexto global anti-ESG

O fortalecimento da agenda anti-ESG nos EUA, na Argentina e em alguns países da Europa afeta as questões de diversidade por conta do abandono de políticas inclusivas, e terá impacto em empresas brasileiras no âmbito da saúde mental, confirma a Philos Org.

 “Recentemente empresas brasileiras afirmaram a política de favorecer o mérito em vez da diversidade. O setor de energia, mais ligado aos recursos naturais, é muito sensível a essa flexibilização. Já o setor financeiro, de onde surgiu a agenda ESG, por obrigações de acesso a investimentos, tem outra realidade, que incluem um percentual alto de afastamento por saúde mental. Mas o real impacto será ditado pelas necessidades de cada negócio e não pela questão ideológica”, prevê.

Diretor de Felicidade

A figura do Diretor de Felicidade organizacional, cargo em ascensão nas empresas, deve ser um catalisador e organizador de um movimento de consolidação de determinada cultura, com a missão de coordenar as iniciativas, dentro de um movimento vindo das lideranças.

“A criação do cargo em si não traz melhorias do bem-estar dos colaboradores, pois deve estar acompanhada de uma cultura organizacional na qual determinadas lideranças estejam sensibilizadas e comprometidas na promoção de um ambiente de segurança psicológica”, alerta Carlos Assis.

Desafio da Saúde Mental das Mulheres

A ascensão do sexo feminino em espaços de poder das empresas é irreversível, mas as questões da saúde feminina transcendem o ambiente de trabalho por estarem ligadas às relações familiares e a questões estruturais, que vêm sendo modificadas gradualmente. Tal contradição explica o tamanho do desafio para as mulheres.

“Por isso, não basta criar determinadas políticas se a mulher, quando retornar da gravidez, é demitida. Não vejo mudanças significativas que possam mudar o quadro de forma disruptiva, a curto prazo. A situação deve melhorar forma orgânica, como estamos caminhando”, acredita Carlos Assis.

Impacto do Setembro Amarelo

As estatísticas registram um crescimento de 57% nos casos de suicídio entre 2000 e 2019. Para a Philos, o cenário aponta para a necessidade urgente de integrar ações mais abrangentes e contínuas no combate ao suicídio, que envolvam diferentes setores da sociedade, como saúde, educação e trabalho. A prevenção ao suicídio deve ser parte de uma estratégia mais ampla de promoção da saúde mental, com ações interligadas e focadas na capacitação de profissionais, além de políticas públicas que atendam de forma mais eficaz as necessidades de apoio psicológico e emocional da população, diz o documento.

Políticas públicas precisam estar alinhadas

As recentes mudanças nas normas trabalhistas, como a nova exigência de inclusão dos riscos psicossociais em seus Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR), representam importantes avanços no campo da saúde mental no trabalho, mas parecem estar sendo tratadas de forma isolada e precisam de maior consistência e integração, destaca o relatório Saúde Mental nas Empresas 2025 – Desafios e Oportunidades.’

A atualização da Norma Regulamentadora n°1, a NR-1, representa uma mudança crucial, pois até então riscos como estresse, assédio e sobrecarga de trabalho, não eram formalmente regulados pela norma.

“No entanto, a implementação dessa obrigação exige clareza sobre o que será de fato considerado um risco psicossocial e como as empresas devem monitorar esses fatores de maneira mais eficaz”.

A criação do Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental representa um passo importante para reconhecer as empresas que implementam práticas efetivas para promover o bem-estar psicológico de seus colaboradores. No entanto, a lei do Certificado, por si só, não oferece parâmetros claros sobre como essas ações devem ser concretizadas de forma prática e como o monitoramento deve ser feito.

“As novas normas ajudam a colocar o tema em evidência, além de trazerem à tona questões sobre como serão regulamentadas e como as empresas irão se adaptar ao novo cenário. Seu principal impacto está em favorecer a reflexão sobre o assunto”, analisa o especialista Carlos Assis.

A certificação tem validade por dois anos, mas não há um detalhamento sobre como garantir que as ações de saúde mental sejam mantidas ou aprimoradas durante esse período, observam os especialistas da Philos Org, que pedem “alinhamento” das políticas públicas voltadas para a promoção da saúde mental.

Confira na íntegra o relatório Saúde Mental nas Empresas 2025 – Desafios e Oportunidades.